terça-feira, abril 17, 2012

Corações Partidos

 
 
Não lembro direito a primeira vez que meu coração foi partido. Digo isso porque não existe um coração que se parta apenas uma vez. Acho que eu tinha uns 13 anos. Pela primeira vez na vida senti um gostar diferente por alguém. Era puro. A gente trocava cartas. Tinha uma ilusão que nos rondava. Uma promessa de dias bons. Mas eles não vieram. O menino resolveu voltar para a ex e eu fiquei com a mágoa enfiada na garganta. Nada fazia passar. Então, eu chorava. Depois passou.

A cada semana eu tinha uma nova paixão. Eu era meio volúvel, me apaixonava rápido, me desapaixonava mais rápido ainda. Muita gente partiu meu coração. E eu parti o coração de muita gente também. Vivia me perguntando: por que quem a gente não gosta nos dá bola? Por que quem a gente gosta não tá nem aí? Essas perguntas eu nunca soube responder. Quando cresci um pouco, além de chorar, eu me abraçava na vodka. Era uma boa aliada, mas no outro dia me dava uma dor de cabeça sem fim. Teve o Paulo, o Guilherme, o Rodrigo, o Eduardo. E muitos outros que não lembro o nome, tampouco a cor dos olhos. Já falei mal de todos. Já coloquei o nome de alguns no mel. Era uma simpatia antiga, diziam que dava resultado, mas vou ser honesta: nunca deu. Já escrevi o nome de alguns no pé (diz a lenda que tinha que escrever no pé e ao enxergar o cara bater o pé 3x no chão). Esses dias encontrei um deles em uma livraria. Resultado: me escondi atrás da estante de dicionários de japonês, porque lembrei que certa vez deixei um bilhete abobalhado no pára-brisa do indivíduo. É, a gente faz coisas horríveis na vida. Outra vez, tentei arrombar o carro de um menino. Tentei abrir a porta e, surpresa, ela não estava trancada. Deixei lá dentro um bichinho de pelúcia. Eu, quatro anos mais nova, devo ter sido motivo de piada nos almoços de domingo. Tudo bem, eu pensava: é o meu jeito. Quem não entender meu jeito não merece o meu amor. E assim fui vivendo.


[Clarissa Corrêia]

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