Não lembro direito a primeira
vez que meu coração foi partido. Digo isso porque não existe um coração
que se parta apenas uma vez. Acho que eu tinha uns 13 anos. Pela
primeira vez na vida senti um gostar diferente por alguém. Era puro. A
gente trocava cartas. Tinha uma ilusão que nos rondava. Uma promessa de
dias bons. Mas eles não vieram. O menino resolveu voltar para a ex e eu
fiquei com a mágoa enfiada na garganta. Nada fazia passar. Então, eu
chorava. Depois passou.
A
cada semana eu tinha uma nova paixão. Eu era meio volúvel, me
apaixonava rápido, me desapaixonava mais rápido ainda. Muita gente
partiu meu coração. E eu parti o coração de muita gente também. Vivia me
perguntando: por que quem a gente não gosta nos dá bola? Por que quem a
gente gosta não tá nem aí? Essas perguntas eu nunca soube responder.
Quando cresci um pouco, além de chorar, eu me abraçava na vodka. Era uma
boa aliada, mas no outro dia me dava uma dor de cabeça sem fim. Teve o
Paulo, o Guilherme, o Rodrigo, o Eduardo. E muitos outros que não lembro
o nome, tampouco a cor dos olhos. Já falei mal de todos. Já coloquei o
nome de alguns no mel. Era uma simpatia antiga, diziam que dava
resultado, mas vou ser honesta: nunca deu. Já escrevi o nome de alguns
no pé (diz a lenda que tinha que escrever no pé e ao enxergar o cara
bater o pé 3x no chão). Esses dias encontrei um deles em uma livraria.
Resultado: me escondi atrás da estante de dicionários de japonês, porque
lembrei que certa vez deixei um bilhete abobalhado no pára-brisa do
indivíduo. É, a gente faz coisas horríveis na vida. Outra vez, tentei
arrombar o carro de um menino. Tentei abrir a porta e, surpresa, ela não
estava trancada. Deixei lá dentro um bichinho de pelúcia. Eu, quatro
anos mais nova, devo ter sido motivo de piada nos almoços de domingo.
Tudo bem, eu pensava: é o meu jeito. Quem não entender meu jeito não
merece o meu amor. E assim fui vivendo.
[Clarissa Corrêia]